Valeu e vale a pena, quando a alma não é pequena#.
Quando mesmo aflito perante os perigos de estar só na imensidão desoladora do mar aberto, a gente se lembra que ele espelha o céu.
Valeu e vale a pena quando me lembro dos mais de 7 mil alunos para os quais já lecionei* e em cada um desses alunos vejo a esperança de progresso, de superação, da mudança para uma vida para melhor. Sim, um diploma universitário muda a vida de uma pessoa, em geral para melhor, tem o potencial de transformar toda uma família. Um profissional bem formado, capacitado, muda a sociedade a seu redor. Prospera, dignifica sua origem e tem a capacidade de estender a mão aos que estão a espera de seu amparo.
É para esse espelho do céu no mar da desolação que muitas vezes nos aflige, que busco olhar.
Valeu e vale a pena quando vejo as vidas que pude ajudar a transformar, os novos bons cidadãos, novos cientistas, professores, profissionais em diferentes área de atuação, formados com as pequenas e grandes contribuições que pude dar a administração e estruturação de minha universidade, das outras onde pude colaborar* e dos órgãos de fomento à ciência nos quais pude participar dentro e fora do Brasil.
Quando vejo que a ciência que produzimos** é reconhecida internacionalmente e nacionalmente ela ajuda a conscientizar sobre a importância da preservação ambiental, da biodiversidade, do estudo da história natural de animais e plantas, vejo que valeu a pena.
Não vejo desalento na adversidade, vejo desafio.
Vejo necessidade de superação e não entrega à derrota. Estamos no mar aberto, as ondas ruins passarão.
Temos que remar! Mais forte ou mais fraco, remar, sempre,
de olho no céu ou no mar que o espelha.
Não cedo aos que nos menosprezam, que tentam nos subjulgar, nos deter no avanço da ciência e da educação. Eu os desafio.
Educando mais e melhor. Estimulando cada vez mais os jovens talentos a se superarem, pois a ciência não tem fronteiras.
Vivemos o mundo das ciências sem fronteiras.
É nessa nova ciência que devemos ver o céu espelhado pelo desafiante e tempestuoso mar aberto.
Sim, valeu e vale a pena ser professor e cientista, onde quer que eu esteja.
Pois nesse nosso mundo da ciência sempre estaremos rodeados de almas jovens ou velhas, mas esperançosas, desafiadoras, inovadoras, questionadoras, inconformes.
Moldá-las para um futuro melhor, de mais educação, ciência e justiça social é a força que desejamos, esteja, também, com você.
Feliz em comemorar hoje, 6 de janeiro de 2022, 30 anos como professor na Universidade Federal de Uberlândia, MG, Brasil. ***
Sabendo que valeu a pena.
Kleber Del Claro
* na Universidade Federal de Uberlândia e nos meus apoios à USP (FFCL Ribeirão Preto), UFMS, UFJF, UFPR, Universidade de Viena (BOKU) e tantas outras universidades onde ministrei cursos de pós-graduação, cursos em congressos, cursos online e etc.
** com o apio de inúmeros colaboradores, entre eles minha esposa (meu braço direito, também cientista), meus alunos (alguns simplemenste maravilhosos), orientadores, colegas, etc.
*** nesses 30 anos foram:
204 Papers (trabalhos completos publicados)
5 livros (dois internacionais - Springer)
1 Enciclopédia para a UNESCO
73 Orientações de Mestrado
+ 6 Coorientações de Mestrado
22 Teses de Doutorado Orientadas
15 Pós-doutorados supervisionados
73 Iniciações Científicas orientadas com bolsa
56 TCCs orientados
Professor Titular e Pesquisador 1A do CNPq
# Fernando Pessoa - "Mar Português"
Como aluna que hoje sou (e claro que nunca deixamos de ser, não é rsrs'), ler um texto como este, nos dá um up e esperança nas perspectivas futuras. Nos faz ter a sensação que as renúncias de agora valerão a pena. E que o sentimento de edificação na vida de outrem também contribuirá em nosso crescimento. Obrigada por isso, Prof. Del Claro. Que venham muitos mais anos!