Uma matéria recente da Scientific American publicada nos EUA, discute esse assunto*.
Parece que o novo coronavírus age sobre as células das mucosas epiteliais do nariz, boca e garganta impedindo que estas levem as informações de olfato (e possivelmente também de paladar) ao cérebro. Não há ainda indícios claros de danos permanentes ou lesões diretamente no cérebro, mas muito mais ciência e pesquisa é necessário para conhecermos o vírus e seus mecanismos.
Destacamos aqui os pontos mais relevantes da matéria.
"Em algumas pessoas, anosmia (perda do olfato) é o primeiro ou um sintoma precoce e, para alguns, o único sintoma, do COVID-19. Portanto, é tentador olhar a anosmia como diagnóstico. De fato, agora, com o novo coronavírus em todo o mundo, uma súbita perda de olfato, especialmente em uma cidade com grandes taxas de infecção, está mais provavelmente associada ao COVID-19 do que qualquer outra coisa. A disfunção olfativa agora está listada como um dos principais sintomas da doença, e os médicos recebem orientações para testar a função olfativa.
No entanto, a perda do olfato é um componente importante de muitas condições, de um resfriado simples a uma infecção sinusal, às doenças de Alzheimer e Parkinson em estágio inicial ou simplesmente ao envelhecimento.
Um estudo recente com dados da Suécia relatou que a prevalência de hiposmia acompanha a taxa estimada de infecção populacional. Esses estudos indicam que há algo especial no vírus que ataca o olfato em particular, o que pode nos ajudar a entender como o vírus funciona.
Como o vírus ataca o sentido do olfato?
Estudos mecanísticos indicam quais fatores são relevantes para hiposmia e anosmia. A maioria dos cientistas concorda que o SARS-CoV-2, como o SARS-CoV conhecido anteriormente, usa o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) para obter entrada nas células através da ligação à proteína spike. SARS-CoV-2 também parece precisar de TMPRSS2, uma protease, para ajudar a preparar a proteína spike no processo de entrada nas células e em algumas outras proteínas. Isso significa que as células devem expressar todas essas proteínas para que o vírus possa se infiltrar e seqüestrar sua maquinaria para se replicar. O ACE2 e o TMPRSS2 são expressos em muitos tipos de células e abundantemente no nariz, garganta e vias aéreas brônquicas superiores. Todas essas células ajudam a manter a saúde dos neurônios sensoriais e da camada de muco, para que os odores possam ativar adequadamente os neurônios.
Há evidências de que o vírus pode migrar para o sistema nervoso central através do nariz e dos bulbos olfativos, bem como por outras vias sem invadir os neurônios sensoriais. Os padrões de expressão do vírus, com início repentino e a recuperação relativamente rápida sugerem que o COVID-19 anosmia não é causada por danos ao sistema nervoso central, mas pela perda de informações sobre o olfato antes de chegar ao cérebro.
Ainda há muitas questões em aberto para esse mistério, mas colaborações internacionais sem precedentes e compartilhamento de dados iniciais, sem dúvida, levarão a pesquisa adiante mais rapidamente do que o habitual. "
Veja também o Projeto da USP-
Projeto vai investigar como o novo coronavírus afeta o olfato
Grupo busca avaliar se a perda abrupta da capacidade olfativa pode ser um indicativo precoce da covid-19
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