A Evolução pode ainda ser considerada uma
teoria científica ou já é um fato científico?
Ambas visões estão corretas. Mas a resposta não é simples.
A palavra "teoria", cotidianamente é usada para se referir a um palpite, uma especulação. Por exemplo, uma pessoa pode dizer "ah, eu tenho uma teoria de porque isso aconteceu!", ou "eu tenho uma hipótese teórica sobre tal assunto!". Em geral, essas pessoas tiram conclusões fragmentadas, sem muitas evidências e inconclusivas sobre um determinado assunto, ou seja, especulam.
Já uma "Teoria Científica" é bem diferente disso. Ela refere-se a uma explicação bastante ampla de algum aspecto da natureza, que demanda um vasto conjunto de evidências para ser comprovado.
Dezenas de teorias científicas já estão tão bem estabelecidas que é provável que nenhuma nova descoberta vá alterá-las em seu âmago. Por exemplo, nada mudará nossa concepção de que a Terra não orbita ao redor do Sol (teoria heliocêntrica), ou que os seres vivos não são compostos por conjuntos de células (teoria celular), ou até mesmo que os efeitos da gravitação são integrados, a gravidade existe (Teoria Geral da Relatividade).
Assim como essas teorias científicas fundamentais, a teoria da evolução é suportada por tantas observações e por experimentos confirmatórios realizados por cientistas pré e pós-darwinianos, que os cientistas atuais não tem nenhuma base sólida para acreditar que possam surgir provas que refutem os componentes básicos da teoria. A evolução do trigo, do milho, a resistência das bactérias a antibióticos, o desenvolvimento de raças animais, as mutações nos vírus da gripe, tudo é prova da evolução agindo. De forma contínua, implacável. Evoluir em biologia, não é sinônimo de progresso. Que fique bem claro, que evoluir é mudar. Então, um organismo pode evoluir uma característica desfavorável, e sucumbir. Isso mostra que a evolução, assim como todas as outras teorias, está sujeita a refinamentos, pequenas mudanças, melhorias. Isso é comum em ciência.
Em ciência, um “fato” normalmente se refere a uma observação, uma medição ou outra forma de evidência que é esperada que ocorra do mesmo jeito sob circunstâncias semelhantes.
Mas podemos usar o termo “fato” para nos referir a uma explicação científica que foi testada e confirmada tantas vezes que não há mais razão convincente para continuar a testá-la ou à procura de mais e mais exemplos. Nesse sentido, a evolução é um fato científico por sua história passada e presente de continuidade.
Como as evidências que a sustentam são tão fortes, os cientistas não questionam se a evolução biológica ocorreu e continua a ocorrer. Em vez disso, investigam os mecanismos da evolução, a rapidez da evolução e outras questões relacionadas. A Evolução é portanto assumida como um "Fato Científico".
Atualmente, nossa perspectiva em Evolução atinge outros patamares. Em um recente livro - Relentless Evolution (A Evolução Implacável), John N. Thompson (um dos maiores evolucionistas da atualidade) explora por que a evolução adaptativa nunca cessa e porque a seleção natural atua sobre as espécies de muitas maneiras diferentes. Essa é a nova fronteira.
Em A Evolução Implacável o autor baseia-se em estudos de todas as principais formas de vida - de micróbios que evoluem em poucas semanas até plantas e animais que às vezes evoluem de forma detectável dentro de poucas décadas. Ele mostra a evolução não como um processo lento, mas como um processo contínuo e às vezes frenético que favorece ainda mais a mudança evolutiva. Thompson apresenta uma visão da vida em que a evolução contínua é essencial e inevitável. Portanto, já aceita como um fato científico.
Espero ter colaborado com você leitor, estamos abertos a mais dicas e discussões sobre esse importante assunto.
Kleber Del Claro - A Ciência que nós fazemos
CV: http://lattes.cnpq.br/0560742682726836
Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp; 1987), Mestrado (1991) e Doutorado (1995) em Ecologia pela Unicamp (1995). Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desde 1992. Atual Diretor de Pesquisas da Univ. Fed. de Uberlândia (2017-2020). Pesquisador CNPq 1A e PPM/FAPEMIG. Coordenador da PG Ecologia/UFU e do Fórum dos Coordenadores de PG/Ecologia do Brasil (2003/2007). Presidiu a comissão "Tropical Biology and Natural Resources"- UNESCO/EOLSS - United Nation Educational, Scientific and Cultural (2007-2011). Presidente da Sociedade Brasileira de Etologia (SBEt 1998/2000 e 2006/2008). Diretor do Instituto de Biologia da UFU (2013-2017). Membro do Comitê de Ecologia e Limnologia do CNPq, 2015/17. Membro do Conselho Científico do Whitney Harris World Ecology Center, USA. Editor Associado da revista internacional Sociobiology. Autor de 177 publicações em revistas indexadas, 7 livros, uma enciclopédia (UNESCO). Orientou: 68 Mestrados (co-orientou: 6); 17 Doutorados; 14 Pós-Doutorados e 72 Iniciações Científicas. Principais prêmios: Destaque em Pesquisa Warwick E. Kerr (2013/UFU); Melhor Orientação de IC/CNPq/UFU (2013); Melhor trabalho 2011 - IUSSI - International Union for the Study of Social Insects. Dedica-se ao estudo da Ecologia Comportamental e de Interações, estuda como interações multitróficas interferem sobre a diversidade e conservação de ecossistemas naturais. Apaixonado pela História Natural, Comportamento Animal e Divulgação Científica (inaugurou a página de livros eletrônicos do CNPq). Dirige o site de divulgação: A Ciência que nós fazemos. Acredita que o nós é sempre mais importante que o eu.