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  • Foto do escritorKleber Del Claro

Por onde começa uma carreira acadêmica de sucesso?


Por onde começa uma carreira acadêmica de sucesso?


Tenho recebido ao longo dos anos um sem-número de e-mails de alunos iniciantes na graduação, principalmente de Biologia (minha área, a qual usarei de exemplo), me pedindo orientação em como se iniciar na carreira acadêmica, como ter sucesso.


Essa pergunta embora pareça simples e fácil de responder ao aluno com um conjunto de “dedique-se, passe em todas as matérias, aprenda inglês e estatística, faça uma IC (iniciação científica), etc”; não é, de modo algum, simples assim. Há inúmeras pedras no caminho de quem quer desenvolver uma vida acadêmica que podem facilmente impedir o sucesso de pessoas muito capazes. Vou escrever a partir de hoje, uma série de textos, talvez semanais, para responder a quem me questiona e me cobra um “palpite”.


Vou iniciar este primeiro texto com dois parágrafos um tanto quanto óbvios, mas que precisam ser ditos. Depois, vou de fato para minhas provocações que podem ajudar você. Não tenho intenção alguma de lhe indicar uma fórmula de sucesso, apenas pretendo te ajudar a tirar, ou desviar de algumas pedras do caminho.


A orientação para dedicar-se aos estudos, traz consigo uma enorme obviedade. Sem aprovação nas matérias, simplesmente você não se forma, sem formatura, nada feito! Mas a eleição de disciplinas “imprescindíveis” faz sentido? Nós precisamos nos dedicar igualmente a todas as matérias? Carga horária grande representa qualidade de ensino-aprendizado? A resposta é não.

É muito difícil para o aluno iniciante saber quais disciplinas serão realmente importantes para ele. Quem está iniciando, simplesmente ainda não sabe o que quer da vida acadêmica e pode, e vai, mudar de rumo várias vezes ao longo do caminho da graduação. Isso é normal! Entenda, você tem o direito de mudar. Muitas vezes é necessário mudar várias vezes, ir e voltar para ter certeza do que quer. Nesse universo do descobrimento, quatro habilidades básicas para qualquer área precisam ser desenvolvidas, e três delas não fazem parte de um conteúdo formal da graduação e uma é, geralmente, pessimamente ministrada.


Leitura, escrita e o domínio de inglês devem ser perseguidos por todos, em qualquer área. Quem não lê, não escreve, eu avisei que esses dois parágrafos seriam de obviedades! Inglês é a língua universal da ciência. Essas matérias geralmente não estão no currículo acadêmico, mas você tem que correr atrás. Olha, eu fui aprender inglês, de fato, depois de alguns anos como professor universitário contratado. Antes, eu não tinha dinheiro e tempo. Hoje, você não pode se dar a esse “luxo”, tem que aprender ainda na graduação para ter uma chance razoável de seguir a vida acadêmica. Isso não é uma opção. A outra habilidade necessária é a estatística, comumente mal ministrada tanto na graduação, quanto na pós-graduação. Não é fácil, a maioria tem dificuldades com estatística, eu tenho! Mas conheço docentes que ministram estatística de forma exemplar, que ensinam sem massacrar o aluno, sem assédio moral com quem tem dificuldades, mas isso infelizmente não é regra geral. Assim, meu caro ingressante na vida acadêmica, você terá que se dedicar a suprir suas deficiências em leitura, escrita, inglês e estatística como puder. Seu professor de estatística foi péssimo? Bem-vindo ao clube! Atualmente há ferramentas na internet, cursos online gratuitos que são de fato bons e facilitam muito a vida de quem precisa e se dedica ao aprendizado dessas quatro habilidades fundamentais à vida acadêmica. As outras disciplinas, devem ser decididas por cada um mediante suas escolhas. Você terá que mapear quais deverá estudar e se aprofundar mais para seu desenvolvimento na área em que escolheu. Tenha uma coisa em mente, não se limite ao que vê na sala de aula, se o assunto interessa, vá além. Sala de aula é para dar um rumo, tirar dúvida, orientar. Quem quer aprender de fato, estuda mais, vai além. Muitas disciplinas que seriam importantes para você, podem ser mal ministradas, ter um professor ruim, e como fazer? Vá atrás de quem melhor pode resolver isso, o livro didático. Sim, tem que estudar. Não deixe um professor ruim desestimular você de seguir em uma área que pode ser muito interessante e promissora. Estude por conta própria, leia,use os recursos computacionais que hoje estão a apenas dois cliques.


Mas, nada do que eu disse até aqui vai lhe dar um caminho de sucesso, se não descobrir se e porque quer seguir uma vida acadêmica. Os motivos para optar por uma vida acadêmica podem ser os mais diversos.

No meu caso, era a sobrevivência. Eu vi na vida acadêmica uma chance de estabilização econômica (fui bancário à noite durante quase toda minha graduação na Unicamp), de desenvolvimento pessoal, um meio para atingir outros objetivos, como formar uma família e conseguir garantia de recursos para mantê-la com dignidade. Uma sorte que não cabe a todos, minha decisão pela vida acadêmica coincidiu com meu gosto pela biologia, pela história natural, comportamento animal, ferramentas de prazer que se misturaram ao trabalho.

Na carreira que trilhei, para minha sorte, meu trabalho de pesquisa e ensino é na maioria das vezes muito prazeroso. Faço o que gosto. Isso, de fato é um luxo no mundo em que vivemos. Para decidir qual área seguir no seu campo de atuação, você deve perseguir o que faz seus olhos brilharem. O que na vida acadêmica lhe dará prazer, motivação, ímpeto. O que na ciência que você estuda, aguça sua curiosidade? Qual é sua ambição cientifica?

Difícil descobrir, não? Como a gente sabe que está apaixonado por um assunto? Isso existe mesmo?


Às vezes uma boa aula, com um professor maravilhoso indica o caminho, desperta você. Outras vezes são os livros, artigos científicos, um filme. Outras vezes, como no meu caso, inúmeras tentativas e erros. Muitas, muitas mesmo!

Não tenha medo de tentar, o erro faz parte do cotidiano, é a vida. Mas insistir no erro, realmente é burrice. Já vi muitos se perderem no caminho, por não terem coragem de mudar, de experimentar o novo, de arriscar. Se você não arrisca enquanto é jovem, não lhe restarão muitas frutas diferentes para experimentar mais à frente. Eu fiquei três anos da graduação em um laboratório, frequentando outros simultaneamente e mudei, no último mês. Sim, no último mês fui para a ecologia, trabalhar no campo com comportamento animal. Arrisquei a estabilidade conseguida por três anos, garantia de bolsa, por uma concorrência absurda. Passei em último lugar, de oito aprovados, com bolsa no mestrado. Ufa! Valeu muito à pena!


E como experimentamos a vida acadêmica? Como iniciamos a pesquisa?

O trabalho de pesquisa inicial, o estágio com um professor ou grupo de pesquisa é o primeiro degrau. A iniciação científica (farei um texto só sobre isso!), seu baile de debutante na vida acadêmica pode ser lindo e pode ser um desastre total. Eu fiz oito! Sim, isso mesmo, estagiei em oito laboratórios diferentes (sem bolsa, eu era bancário à noite!), algumas vezes simultaneamente sem que um soubesse do outro, a fim de decidir o que eu ia querer seguir na minha carreira.


Experimentei, ainda na graduação uma miscelânia de orientadores que me permitiram descobrir, ainda na graduação, como é duro encontrar um bom orientador. Esse, será sem dúvida alguma, um enorme desafio, um momento de extrema dificuldade. Orientador bom, é coisa rara! Infelizmente, o que deveria ser o normal, uma pessoa dedicada, interessada pelo aluno, desprendida de egos, fiel ao seu papel institucional de educar, instruir e orientar, não é tão comum. Muitos sonhos, muitas carreiras potencialmente brilhantes, podem, e algumas são destruídas por maus orientadores. A inteligência, a capacidade de pesquisa de um orientador não estão diretamente relacionadas com sua capacidade de apoiar, ensinar e com o bom caráter.


Identificar um bom orientador, será fundamental para seu sucesso.

E o que é um bom orientador? Há muitos tipos de orientadores, eu descobri isso na minha caminhada. As pessoas vão te dizer para olhar o CV Lattes do orientador, se atua em pós-graduação, se está publicando, se consegue bolsas para os alunos, tudo isso é importante. Mas o mais importante é descobrir, se essa pessoa será uma pessoa que se importa com você.

O melhor orientador que eu conheço não é uma sumidade acadêmica, não é um pop star da ciência, não é bolsista de pesquisa do CNPq, não publica mil papers por ano. Mas essa pessoa, dedica o mesmo tempo a um aluno brilhante, que dedica a um aluno idoso, que pela história de vida ingressou tardiamente numa universidade e que na hora do TCC todos os outros professores desprezaram orientar: “uma perda de tempo”. Essa orientadora, corrige linha por linha dos projetos de seus alunos, indica leituras, acompanha. Vai ao campo junto! Toma o mesmo sol ou chuva no lombo! Pega na mão para ensinar e quando precisa puxar a orelha, o faz com gentileza, com amor. Ela dá oportunidades, não tolhe sonhos.

É desse tipo de orientação que todos nós precisamos, de alguém que se importa conosco, pelo que somos e não pelo que poderemos produzir. Gostaria de dizer o nome dela, mas sei que pela humildade cristalina que tem, vai se aborrecer.


Em um próximo texto, vou escrever sobre os tipos de orientadores, a fim de continuar ajudando você na sua caminhada.


Próximo texto: como escolher um orientador, da IC ao doutorado - uma ponte para o sucesso!


Um abração,

Kleber Del Claro



Kleber Del Claro é Pesquisador 1A do CNPq, tem mais de 200 trabalhos científicos publicados em revistas indexadas, vários livros nacionais e internacionais, orientou mais de 100 alunos entre graduandos, mestres, doutores e pós-doutores. Está na lista dos pesquisadores mais influentes do mundo.




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