Animais que vivem nos trópicos precisam lidar com temperaturas muito altas e evitar insolação. Algumas espécies possuem adaptações notáveis para controlar a temperatura corporal, geralmente na forma de estruturas que atuam como radiadores para resfriar o corpo, dissipando o calor. Por exemplo, alguns mamíferos possuem orelhas longas para dissipar o calor, como as notáveis aurículas do coelho-de-cauda-preta, Lepus californicus, e a raposa fennec do Saara, Fennecus zerda, bem como as “orelhas” dos elefantes. Nas aves, outras estruturas têm uma função semelhante, como os bicos de tucanos e papagaios. Esses apêndices estão cheios de vasos sanguíneos, pelos quais o sangue é bombeado para reduzir a temperatura.
Mas agora, uma dupla de pesquisadores, um brasileiro e um da Alemanha acabam de decifrar um mecanismo incrível em libélulas do Cerrado do Brasil.
Na libélula Zenithoptera lanei, que habita áreas abertas do Cerrado e da Amazônia os machos têm adaptações marcantes e únicas nas asas, não conhecidas em nenhum outro inseto. As asas são cobertas com nanocristais de cera que refletem a luz ultravioleta e a radiação infravermelha. Além disso, a asa é permeada por um intrincado sistema de traquéias, outra característica única deste inseto.
Os resultados do trabalho sugerem que a superfície dorsal da asa atua como um sistema de resfriamento, enquanto a ventral pode servir para elevar a temperatura corporal. Veja na foto acima que quando as asas estão abertas (ficam azuis) e tem uma estrutura de nanocristais, e quando fechadas (ficam pretas), tem outra estrutura. Ao lado direito da foto você pode ver que a asas aberta (figuras "a" e "b" na esquerda) ajudam a resfriar o animal, dissipar o calor, veja as asas bem coloridas no sensor de calor. E quando fechadas (figuras "c" e "d" na direita) aquecem o animal.
Portanto, os autores concluíram que essa libélula possui adaptações que são únicas por natureza: um sistema complexo de termorregulação com a função dupla de resfriar ou elevar temperatura corporal, dependendo da posição da asa.
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Veja o trabalho em:
Rhainer Guillermo-Ferreira, Stanislav N Gorb, Heat-distribution in the body and wings of the morpho dragonfly Zenithoptera lanei (Anisoptera: Libellulidae) and a possible mechanism of thermoregulation, Biological Journal of the Linnean Society, 2021;, blaa216, https://doi.org/10.1093/biolinnean/blaa216
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