Não é novidade nenhuma, infelizmente, que o orçamento de ciência e tecnologia no Brasil vem caindo ano a ano, e desde 2016 de forma acentuada.
"O único ano em que o recurso do FNDCT foi repassado integralmente ao MCTI foi 2010. Antes e depois disso sempre tivemos valores contingenciados: 20%, 30%. Mas de 2016 para cá só aprofundou, chegando a 60% e agora a pouco mais de 90%"*
Os valores das bolsas de mestrado e doutorado não recebem correção desde 2013. Hoje, um bolsista de mestrado recebe cerca de R$ 1.500, e de doutorado, de R$ 1.800 a R$ 2.200.
São essas pessoas que em parceria com seus orientadores desenvolvem novas tecnologias, novos medicamentos, vacinas, novos produtos químicos, avanços na internet, preservação da natureza, melhores alimentos, etc, etc, etc.
Além dos baixos valores pagos aos "estudantes" - entre háspas, pois essas pessoas são todas profissionais formados, mestres, doutores, pós-doutores - também seus orientadores não conseguem receber bolsas de estímulo à pesquisa, mesmo tendo se dedicado por anos, muitas vezes décadas para merecê-las.
Como está na imagem, a frase que mais comumente um pesquisador recebe hoje dos órgãos de fomento nacionais é essa:
" Sua proposta teve mérito reconhecido,
mas frente a demanda, não temos como pagar"
Ou seja, em poucas linhas, reconhecemos que você trabalha muito, produz muito, merece, mas nosso país (o governo) não reconhece seus esforços (ou não se importa?), e nós como gestores pouco ou nada podemos fazer, além de lamentar junto com você. Tente na próxima vez!
Tente na próxima vez! Como se fosse uma brincadeira de festa junina, uma raspadinha?
O modo como o Brasil vem tratando a ciência, seus jovens e velhos cientistas, custará caro ao país, já está custando. Muitos e muitos cérebros privilegiados estão deixando o país, não porque querem, mas porque precisam.
Para pagar suas contas (um doutor ganhar dois mil reais, sem férias, sem 13º, sem nada?), para poder continuar com suas pesquisas sem interrupções que destroem anos de progresso, para poder vislumbrar um futuro em ciência.
Mas muito pior que isso, são os jovens promissores que estão desistindo, por pura falta de opção, oportunidade. Você encontrar um Mestre, ou um Doutor, bem formado, em área de tecnologia de ponta, dirigindo Uber ( sem demérito algum a profissão, mas a pessoa está obviamente no emprego errado), é de cortar o coração! O Brasil não investiu 25 anos para formar um doutor qualificado e deixá-lo à margem da ciência, da tecnologia, no abandono.
Assim como não podemos continuar desestimulando nossos professores-cientístas que se preparam por décadas e não tem uma bolsa de pesquisa por que falta recursos para pagá-los. Essa pessoa, ao receber uma nota como essa, dizendo que sua pesquisa e carreira são excelentes, mas que não terá um apoio mínimo (de pouco mais de mil reais!) para sua pesquisa, sente um desestímulo tão grande que passa, muitas vezes, a simplesmente dar apenas suas aulas e esperar pela aposentadoria. Pois essas bolsas, são o ÚNICO diferencial entre o professor e o professor-pesquisador.
Aos meus colegas jovens e velhos cientístas, um recado de esperança.
Não desistam, não se acomodem! Eu acredito que você irá conseguir o devido reconhecimento em todos os aspectos, não desista. Procure oportunidades com afinco, no Brasil ou fora dele. Esse é um mundo globalizado, você pode ser brasileiro em qualquer lugar do mundo. Você pode ajudar o país de qualquer canto do mundo. Não desista! A Ciência precisa de você, principalmente quando seu país está cego ou propositadamente negando a ciência.
Tudo passa! A esperança vencerá novamente!
A você amigo(a) que acompanha e admira a ciência, peço encarecidamente que nos ajude a defender a ciência, a pós-graduação, as bolsas de pesquisa no Brasil. Por sua ampliação e valoração, para recuperarmos os patamares de 2010!
O Brasil precisa! Você precisa!
Ciência salva vidas! Ciência é progresso! Ciência gera riqueza!
Referências:
*https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/10/25/cortes-ciencia-governo-bolsonaro-ex-presidente-cnpq-glaucius.htm - Ana Paula Bimbati
Kleber Del-Claro
Editor de A Ciência que nós fazemos -
Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia
Prof. Permanente na PG Entomologia Universidade de São Paulo (FFCLRP).
Pesquisador 1A do CNPq.
Para saber mais veja a sessão Quem Somos!
https://www.cienciaquenosfazemos.org/
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