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  • Por Kleber Del Claro

Angústia, a difícil arte de não adoecer junto a quem precisa de nós.


Quem tem uma pessoa próxima que sofre de depressão vai entender essas breves linhas. Isso vale também para outras doenças, para a maioria das graves doenças que podem se abater sobre um ente querido de qualquer um de nós.

Sim, o raio vai cair em algum lugar, ele não escolhe a casa. Não interessa se você é gente boa, ou ruim, é o acaso, o caos. Esqueça a interveniência divina, o sofrimento pode se abater em um lar de forma totalmente aleatória e imprevisível. Não vai adiantar nada rezar, você terá que agir, que ter forças além do que achou que poderia ter.

Ahh! E o raio cai sim na mesma casa várias vezes! Eu garanto!

O doente sofre. Dores físicas, dores emocionais. Dores mentais, profundas. Mas ele está doente e pode expor sua dor. O cuidador já é outro caso. Ele sofre, muito, mas um sofrimento calado, refreado, como um nó na garganta a tirar todo e qualquer sossego.

Esse nó se chama "Angústia"!

É aquele sentimento de você ver um aluno querido sofrendo com problemas em sua casa, com assédio, com depressão profunda e você pouco ou nada poder fazer. Às vezes você até faz muito. Muito mais até do que deveria, mas o nó não vai embora. Ele está lá, a tirar o seu sossego.

É quando um médico passa no quarto e faz aquela cara de vamos ver amanhã. Puta que pariu! Vamos ver o que amanhã seu bosta! é isso que a gente que sofre com o paciente pensa, mas tem que engolir. Não pode dizer. Você depende, do bom e do mal médico muitas vezes. Porque a gente não sabe, nunca, quem eles são. Você confia, não há o que fazer, e se angustia.

É quando você tem um filho com depressão, e todo filho nosso é lindo e maravilhoso e para o qual você sonhou o melhor dos mundos. E você vê esse filho sofrer, se afundar e tenta. Você tenta, você se sente nadando contra um rio caudaloso, de águas correntes fortes e profundas e você vai contra, você nada muito pra subir o rio. Aí cansa e desce junto, e desce mais e aí você vê que está adoecendo junto. Por que o médico, não resolve. Pra ele, basta aumentar a dose de BUP e largar o paciente abobado. Pro psicólogo, é o descaso da lenga lenga de não ligar nem quando o paciente some, a não ser que ele tenha esquecido de pagar uma consulta. Angústia de nadar num mar de péssimos profissionais despreparados e gananciosos. Lógico que tem gente boa, mas nesse mercado é a exceção.

Então a gente descobre que tem que ser artista. Se reinventar para não adoecer junto. Pois senão, tudo vai desandar. A gente tem que ver os sintomas: desassossego, falta de sono, impaciência, aflição, raiva, indignação com tudo e mais um pouco. Você reclama de tudo. A coisa fica ruim mesmo quando você quebra o controle da TV de tanto mudar de canal. Aí fodeu!

Pára! Respira e pensa então. Você é a tábua de salvação!

Você é madeira de lei, não pode afundar!

Se você se for rio abaixo todos se afogam. Então não tem jeito. Engole a água suja do rio e cospe! Desata o nó da angústia ou respira com ele lá!

Dá mais uma braçada, se agarra numa galhada, não desce mais nesse rio. Nada! Só mais uma braçada! Pensa no que vale à pena:

Amor! Carinho! Compreensão! Respeito! Exemplo! Afeto!

Abraça! Abraça quem precisa, isso vai levar sua angústia embora, pouco a pouco. Confia em você! Confia no amor!

Manda o que não importa pra puta que pariu! Dá um foda-se pras coisas menores, irrelevantes, pra aqueles seres desprezíveis que se agarram nas suas pernas querendo ver você se afogar. Seja forte!

Só tem um jeito de vencer a angústia: com um amor tão raivoso e virulento por quem te interessa salvar que vai contagiar. Vai levantar quem precisa e tirar da corredeira. Acredite!

Ainda assim você pode ser derrotado. Eu não disse que você vai vencer. Eu disse como tentar vencer. Mas mesmo que venha a derrota, o nó da angústia de quem cuida vai desatar, porque você vai saber que você mergulhou no mais profundo dos infernos pra tentar resgatar quem amava. E não respirou! Ás vezes por anos!

Mas valeu à pena, por que você amou! Como se deve amar!


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