https://www.vox.com/science-and-health/2017/2/15/14613878/national-academy-genome-editing-humans
O ser humano está em contínuo processo de evolução. Sim, nossa espécie está evoluindo como todas as outras no planeta. Mas é importante que você entenda o significado biológico do termo evolução.
Evoluir em biologia é sinônimo de mudar e as espécies mudam por recombinação genética, ou seja, por pareamentos gênicos novos que são resultado de acasalamento, sexo. Os organismos compartilham pacotes genéticos durante o sexo que podem resultar em um novo organismo, um bebê no nosso caso. Espermatozóides e ovócitos nada mais são que pacotes contendo material genético (DNA) para recombinação, que ocorre durante o sexo.
Neste processo recombinante, outras forças da natureza podem agir durante o pareamento genético, como o "crossing-over" (para simplificar, são quebras e emendas no DNA durante a formação dos gametas) e mutações, que provocam mudanças no material genético ou em sua configuração final. Tudo isso somado leva á formação de um zigoto, um embrião, um novo indivíduo. Esse novo organismo, estará sujeito às forças seletivas do ambiente, ou seleção natural, que mostrará se o mesmo está adaptado ao seu mundo atual, com maior ou menor sucesso.
Então, organismos ao longo das gerações irão mudar, evoluir, e podem evoluir para algo melhor, ou pior. Então, podem proliferar ou caminhar para sua extinção.
No nosso caso, a ação antrópica (humana) sobre a seleção natural, com o desenvolvimento de remédios, vacinas, tecnologias, novos alimentos, etc, reduz de forma significativa e/ou altera a forma de ação da seleção natural. Mais à frente vamos discutir aqui que o ser humano chegou ao ponto de decidir como, quando e onde evoluir.
Com relação ao futuro da espécie humana, a maioria de nós cientistas está ciente dos riscos de nossa extinção. O maior deles, a degradação acentuada do planeta que o tornará em breve incapaz de sustentar uma população que cresce de forma descontrolada. Os efeitos do aquecimento global podem tornar a Terra inabitável.
Bom, inabitável, pelo menos para os humanos modernos. Veremos o fim do Homo sapiens, o que não quer dizer que veremos o fim da espécie humana.
O escritor britânico de ficção científica Arthur C. Clarke formulou três predições que são hoje conhecidas como as Três leis de Clarke. Elas valem, principalmente, para o que se refere à conduta humana perante a ciência.
A primeira diz que quando um cientista experiente, mas idoso, afirma que algo é possível, ele deve estar certo. Quando ele afirma que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.
A segunda premissa de Clarke nos diz que a única maneira de descobrir os limites do possível é aventurar-se um pouco além deles no impossível.
A terceira e última das leis nos diz que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia para a maioria das pessoas.
Pois então, na última década os seres humanos avançaram de forma inconteste e inédita sobre todas as áreas da ciência, tornando o impossível, corrriqueiro (1ª lei de Clarke); quebrando todos os limites da aventura do descobrimento (2ª lei de Clarke); e revelando aos olhos dos ignorantes uma magia indecifrável, que místicos e fanáticos religiosos temem, por não compreender (3ª lei de Clarke), exatamente como na era medieval, pois as trevas cobriam, como cobrem hoje seus olhos.
Não vou discutir aqui a ética em muito do que estamos vendo, ou prevendo, que irá acontecer. Vamos apenas comentar os fatos, que nos levam a crer que tudo irá mudar, em muito breve.
Vou abordar hoje, apenas um tópico de todo nosso grande avanço científico: a manipulação genética humana.
Vejamos apenas um fato recente:
"Um grupo de cientistas dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e da China conseguiu eliminar de embriões humanos cópias mutantes do gene MYBPC3, responsável pela miocardiopatia hipertrófica, doença cardíaca que provoca morte súbita e afeta uma a cada 500 pessoas. O estudo foi realizado na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (EUA) e liderado pelos pesquisadores Hong Ma e Shoukhrat Mitalipov.
Os cientistas não “curaram” pessoas com a doença. Eles fertilizaram óvulos de 12 mulheres usando esperma de um homem com cardiomiopatia hipertrófica. Em seguida, utilizaram a técnica CRISPR para substituir a sequência de DNA com mutação pela saudável. Dos 58 embriões resultantes, 42 se desenvolveram sem o gene que causa a enfermidade, uma taxa de sucesso de 72%. A CRISPR é uma sequência de DNA que pode ser repetida diversas vezes, com sequências únicas entre as repetições. Sempre convenientemente localizado perto dessas sequências, está o gene que expressa a enzima Cas9, que tem a capacidade de cortar precisamente o DNA. A dupla CRISPR-Cas9 funciona da seguinte maneira: a Cas9 corta o DNA e a CRISPR diz à enzima exatamente onde cortá-lo. O mais interessante é que os cientistas descobriram como informar à Cas9 a sequência a ser editada (por meio de uma cadeia-guia de RNA), retirando um pedaço do DNA e substituindo-o por outro."
Fonte: Nature, agosto de 2017. - https://cib.org.br/edicao-genetica-corrige-gene-humano-causador-de-doenca-fatal/
A terapia genética, ou seja, a transferência de material genético com o propósito de prevenir ou curar uma enfermidade, não é uma técnica fácil, tem muitas restrições, mas já não é uma novidade desde a década passada. Desde 2008, humanos "transgênicos" já circulam entre nós. O que estamos vendo agora, são alterações em embriões.
Podemos modificar o DNA humano de forma artificial. Podemos mudar o Homo sapiens.
Pergunte-se então, sem qualquer medo de teorias conspiratórias malucas: se essas informações, que representarão ganhos financeiros incalculáveis, que devem estar protegidas por milhares de cláusulas de confidencialidade, chegaram até nós, onde, de fato, nós já estamos nesses avanços científicos?
Como disse, não discutiremos a ética nesse momento, nem as implicações místicas de qualquer tipo de religião, mas apenas estamos agindo como um observador externo. Cientistas fazem sempre isso num primeiro momento, observam. Estamos observando os fatos que nos chegam e imaginando se o ser humano chegou ao ponto de decidir como, quando e onde evoluir.
1. A que ponto estamos de modificar genes e nos livramos da maioria das doenças? Quanto falta para isso?
2. Quanto falta para já nascermos livres dessas doenças?
3. Quanto faltará para nascermos mais inteligentes? Ou mais fortes? Ou mais rápidos? Lembre-se que já podemos escolher se queremos menino ou menina e, sabe-se lá mais o que! Lembre-se dos casos de doping genético no esporte olímpico recente.
4. O primeiro mamífero foi clonado entre 1996 e 1997 na Escócia, a ovelha Dolly. Haveria algum interesse para a clonagem humana? Será que já saímos dos filmes e livros de ficção para a vida real?
5. Poderíamos clonar órgãos humanos, modificados genéticamente, substituir nossos próprios com defeitos ou doenças e prolongar nossas vidas?
6. Se isso ocorrer, poderíamos transferir nosso cérebro, para um novo corpo clonado?
Tudo isso representa alteração humana em material genético, o que progressivamente nos distanciará do DNA ancestral do Homo sapiens. Para mim, não resta a menor dúvida de que caminhamos para nos tornar uma nova espécie. Qual será essa espécie do futuro? Essas mudanças serão para todos? Estou preocupado e com muitas dúvidas. Só tenho uma certeza: estamos mudando e espero que seja um admirável e não um terrível mundo novo. Já ultrapassamos nesse sentido as duas primeiras leis de Clarke e a terceira valerá para os que preferirem a ignorância, a eles restará a Terra plana.
De um cientista muito esperançoso com a ciência e preocupado com suas implicações.
De volta ao Dilema Darwinista Vitoriano.
Kleber Del Claro